Na Síria, você escolhe entre votar a favor do regime ou ser perseguido por ele, diz imigrante no Brasil
A legitimidade da votação que elegeu Bashar al Assad para seu terceiro mandato
como presidente da Síria tem sido contestada pela oposição e por
organizações internacionais devido a vários fatores, entre eles, a
liberdade de voto no país.
Amer Masarani, um imigrante sírio que vive no Brasil há 17 anos, contou ao R7
que nos colégio eleitorais do país não há um espaço fechado para que os
eleitores possam votar com privacidade e escolher a vontade seu
candidato.
Redes de televisão oficiais chegaram a mostrar imagens de centros
eleitorais com muitos eleitores marcando seu voto em Assad diante das
câmaras.
— Quem fala não [ao regime] já sabe o destino. É como se houvesse uma
urna e um caixão, você vota a favor do regime e seu voto entra na caixa,
você fala não e você entra no caixão.
Segundo o imigrante, os sírios que se recusam a votar também são
perseguidos pelo governo. “Quem não votou com certeza vai ser
perseguido”, diz o sírio.
— Eles usaram uma tinta de identificação que marca o dedo dos que
votaram por um tempo. Então, a pessoa que não vota é identificada e
cobrada pelo regime.
Outro ponto questionável sobre a eleição é que a Síria tem cerca de 6,5
milhões de deslocados internos e 2,5 milhões de refugiados espalhados
pelo mundo, que poderiam ficar de fora da votação.
Muitos países como EUA, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Egito,
Turquia, Alemanha, França, Inglaterra e Itália não abriram a
possibilidade de voto para sírios no exterior.
A votação aconteceu apenas em alguns países aliados ao regime, como Rússia, Irã, Coreia do Sul e Líbano.
Até mesmo dentro da Síria, as eleições não abrangeram todo o território
nacional. Só participaram, na prática, as regiões que estão sobre o
controle do governo (40% do território, no qual vive 60% da população),
deixando de fora os redutos da oposição.
“O que tem se vinculado é que a eleição não seria legítima do ponto de
vista de atendar a todos os interesses sociais que vêm eclodindo nos
últimos anos na Síria”, explica Daniel Coronato, professor de relações
internacionais do Senac São Paulo.
— Para ter eleições você precisa de um nível razoável de normalidade,
de estabilidade. Então, ele acaba abrindo as eleições só para as áreas
onde o regime tem controle.
Assad conseguiu 88% dos votos na última terça-feira (3), resultado que,
apesar de muito expressivo, não é injustificado. “Assad ainda possui
grande influência em setores chave da sociedade síria, principalmente
nos grandes centros urbanos”, diz Coronato.
Observadores de vários países convidados pelo regime sírio, inclusive a
brasileira Socorro Gomes, afirmaram que as eleições foram "livres,
limpas e transparentes", Mas o resultado não foi considerado válido pela
Otan.
A Organização considerou que o pleito não cumpriu os padrões
internacionais de transparência: "São uma farsa", disse o
secretário-geral, Anders Fogh Rasmussen sobre as eleições
secretário-geral.
Já os Estados Unidos declararam que Assad estava forçando sua
autoridade por meio da organização de uma eleição em meio a uma brutal
guerra civil. "As eleições presidenciais na Síria são uma vergonha",
afirmou a porta-voz do departamento de Estado, Marie Harf.
Category: Internacional, Política
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